por ANDREIA SILVA
RESUMO
O presente trabalho toma como avaliação
a perspectiva do sujeito no relato de sua própria história, considerando a
importância do olhar do docente no testemunho desse relato, percebendo a linguagem não como um mero instrumento de
comunicação e sim contextualizada, viva, construída por cada um de nós.
INTRODUÇÃO
Considerar a história que atravessa cada
sujeito e de que forma ele atua sobre o mundo a partir desse ponto de partida,
parece ser uma das maiores dificuldades apresentadas pelos meios educacionais
na contemporaneidade.
Camilo (1998),
em seu texto Universidade, Modernidade e Pós-modernidade, pontua que somos
herdeiros da modernidade científica, e que esta
é baseada em dois princípios básicos: a separação radical entre sujeito e
objeto e o conceito de ordem uniforme como principio organizador dominante da
realidade. A modernidade admitiu um mundo objetivo a ser descoberto pelo método
científico.
,A visão da concepção moderna de mundo, inicialmente, está marcada pela visão aristotélica onde o mundo é estático e não evolucionário
e explicado pela metafísica. Sujeito e objeto encontram-se separados, como
entidades independentes. O sujeito passa a ser
descontextualizado, sem história e sem experiência. Para Benjamin
um homem sem experiência é um homem que não deixa rastros, seus rastros passam a ser
substituídos pela massificação e por técnicas de controle, o que o autor
denomina como reprodutibilidade técnica.
O que passamos a observar a partir
desse novo paradigma é a perda do lugar da singularidade e o nivelamento maciço
dos sujeitos e dos seus discursos.
Valoriza-se os atributos e a ênfase no desempenho dos sujeitos. O
discurso da atualidade reivindica o “bom” desempenho, o que gera uma busca
desenfreada para ser o melhor e, consequentemente, o que
observamos é a reprodução desse modo de pensar em todos os âmbitos sociais.
A partir dessa panorâmica, percebemos que o nivelamento dos discursos e a
desvalorização da experiência podem ser
considerados como uns dos sintomas sociais da atualidade. A nossa reflexão passa pelo papel das
instituições escolares na manutenção desses discursos e no encapsulamento dos
sujeitos.
O sujeito, a linguagem e a sua história formam o tripé que irá permear a nossa discussão, e os
principais referenciais teóricos utilizados foram Benjamim, Bakhtin e
Vygotsky.
APRENDIZAGEM E OS PROCESSOS DE
SUBJETIVAÇÃO
A contemporaneidade trouxe consigo um
fenômeno que atravessa todos os setores da vida, e se faz presente
principalmente na esfera educacional, que é a rotulação
dos diferentes tipos de comportamentos, fenômeno,
esse, fomentado principalmente pelo discurso
médico-psiquiátrico.
Hoje,
muitas escolas, na elaboração dos seus projetos
políticos pedagógicos e das suas metodologias de
ensino, não abrem espaço para a singularidade dos sujeitos, seja aluno ou
professor.
Os problemas de aprendizagem atualmente
fazem parte do vocabulário dos profissionais da educação, dos profissionais de
saúde e até das famílias dos alunos. É recorrente, por exemplo, tratar os
problemas de aprendizagem a partir de uma ótica médica, sem levar em
consideração a particularidade de cada
indivíduo.
É importante perceber que os problemas
de aprendizagem possuem causas diversas e, na
maioria das vezes, se relacionam com a biografia de cada aluno. Pensar esses
problemas, levando em consideração a
singularidade de cada indivíduo, possibilita
considerar a importância da subjetividade da criança. É possível perceber que a escola atual, com seus currículos
padronizados, e com formas estereotipadas de atuar com as questões dos
sujeitos, está com sua singularidade sendo completamente ignorada e a sua escuta negada, na
medida em que não nos propomos a escutar a sua história.
Kramer (1993),
em seu texto Educação e Linguagem, fazendo referência ao pensamento de
Benjamin, nos ensina que “o declínio da
experiência gera a degradação da arte de narrar e, mais do que isso, a
transformação da linguagem em instrumento de meio, coisa mercadoria” (p. 47).
A linguagem está intrínseca ao
desenvolvimento dos sujeitos. Ela constitui a
sua história, acompanha o seu desenvolvimento. Ao falarmos de sujeitos, estamos nos referindo a sujeitos que narram e expressam
os seus desejos, o que esperam do seu meio. O desejo expresso por esses
sujeitos poderá ser identificado na sua fala, na sua escrita, no modo como
constrói a sua história.
Souza (1995),
ao tratar dessa temática, nos diz que ao
reprimirmos o desejo da criança, não considerando o processo no qual elas estão
inseridas, a submetemos ao processo de
alienação. E ainda nos ensina que "a tarefa da
educação é a de superar ou transcender
positivamente o processo de alienação a que o homem é submetido cotidianamente,
no campo das relações sociais, afetivas, culturais e econômicas".
De acordo com Souza (op. cit.), o
discurso verbal está diretamente ligado à vida e
não pode ser divorciado dela sem perder a sua significação. Para essa autora,
qualquer enunciado envolve critérios éticos, políticos, cognitivos e
afetivos. Bakhtin,
ao falar sobre o verdadeiro núcleo da realidade linguística, nos ensina
que, na prática viva da língua, não são palavras que pronunciamos e escutamos e
sim verdades ou mentiras, conteúdos bons e maus. Esse autor afirma que a
palavra está sempre carregada de conteúdo ou de um sentido ideológico.
Dessa forma,
podemos entender que a concepção da linguagem
para Bakhtin se dá na interação verbal dos diferentes discursos. Em Vygotsky observamos que o uso da linguagem se constitui no elemento mais importante no
desenvolvimento das estruturas psicológicas superiores, que podemos entender
como a consciência da criança. Souza (op. cit.), ao
citar Vygotsky, nos diz que o conteúdo da experiência histórica do homem, embora
esteja consolidado nas criações materiais, encontra-se também generalizado e
reflete-se nas formas verbais de comunicação entre os homens e seus conteúdos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
FILHO,
Camilo José. Universidade, modernidade e
Pós-modernidade (1998). In: Educação, Modernidade
e Pós-Modernidade. Campinas: Mercado das Letras, 2000.
KRAMER,
Sonia. Por entre as pedras. Arma e sonho
na escola. São Paulo: Ática,1993.
SOUZA,
Solange Jobin. Linguagem, consciência e
ideologia. In: OLIVEIRA Zilma de M. Ramos de (org.) A criança e seu desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 1995, p.11-30.
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